Na década de 1960, o menino Attila Sudár iniciava sua história no polo aquático, na Hungria. Em 2020, em Bauru, interior de São Paulo, dezenas de crianças brasileiras também iniciam sua trajetória nesse esporte, sonhando em conquistar muitas medalhas e títulos assim como Attila. Elas treinam na Associação Bauruense de Desportes Aquáticos (ABDA), onde convivem não apenas com o campeão olímpico húngaro, hoje técnico do time adulto bauruense, mas também se espelham nos colegas que começaram pequenos no projeto e, atualmente, jogam até pela seleção brasileira.
O campeão olímpico pela seleção da Hungria dá nome a um importante festival promovido há dois anos pela ABDA, o Festival Attila Sudár. O ex-atleta e hoje técnico estará presente no HaBaWaBA Brasil, evento que traz uma grande oportunidade de vivência para as crianças. “O brasileiro é muito caloroso. Quando eu chego na piscina, todo mundo abraça, beija, vem conversar. Na Hungria, há muito respeito, mas as pessoas são mais frias”, comenta.
No currículo de Attila Sudár, constam 1º lugar na Olímpiada de Montreal (1976), 3º lugar na Olímpiada de Moscou (1980), dois campeonatos europeus, dois vice-campeonatos mundiais, seis títulos de campeão na Hungria e dois títulos de campeão na Itália. O atleta jogou até os 44 anos na Hungria. De início, não pensava em ser treinador, pois amava estar dentro da piscina. Mas acabou por um período conciliando as vidas de jogador e treinador, atuando na Hungria, Itália e França. Uma cirurgia de hérnia de disco, porém, tirou o jogador da piscina.
Confira entrevista a seguir e conheça melhor o técnico da ABDA:
Técnico Attila Sudar com a equipe sub-20 da ABDA durante jogo do Campeonato Brasileiro em 2019
Attila Sudár: Eu comecei a nadar quando criança, pois meu pai tinha uma pequena chácara perto do rio Danúbio. Depois eu fui para a piscina. Fiz natação até os 14 anos no Center Sport School, um programa governamental da Hungria, a melhor escola de natação, polo aquático, futebol e outros esportes. Mas, eu viajei com meu pai por um mês para a Suíça. Quando voltei, meu treinador me deu uma suspensão. Nesse dia, dentro da piscina, estava um técnico campeão olímpico que me convidou para começar a jogar polo aquático.
Attila Sudár: Todo mundo fala que Olimpíada é o máximo. Mas, naquela época, eu tinha 22 anos. Era muito jovem. Não sentia a real importância, era natural. Porque meu time sub-18, sub-20 nunca perdeu. Ganhamos campeonatos europeus, mundiais e quando cheguei à seleção adulta pensava que era a mesma coisa, sem medo. Por isso, o último jogo contra a Iugoslávia foi praticamente um amistoso, não foi como é hoje uma final olímpica. Agora, o Mundial que jogamos no Equador, em 1982, foi mais marcante, mais doloroso. No último segundo, fizemos um gol, o juiz deu e Hungria seria campeã mundial. Mas, na mesa de arbitragem, um americano falou que havia acabado o tempo e invalidou o gol. Fomos olhar o relógio e alguém da Rússia, nosso adversário na partida, tinha tirado o relógio da tomada. Não tivemos como provar que o gol foi válido e a Rússia ficou com o título.
Attila foi medalha de ouro na Olímpiada de Montreal (1976)
Attila Sudár: Quando jogava na Hungria, minha rotina de treinamento era muito difícil porque eu cursava faculdade de odontologia nessa época. Treinava natação das 6h30 até 7h30, ia para a faculdade às 8h e treinava novamente das 19h às 20h30. Depois, quando jogava na Itália, não tinha mais a faculdade. Eu acho que fui o primeiro jogador do mundo que, além do treino de natação e chutes, também fazia preparação na academia, no mínimo uma hora por dia, pois eu tinha muito tempo livre. A diferença entre o polo aquático de hoje e daquele período é que atualmente tem muito mais contato físico.
Attila Sudár: Quando eu jogava eram 4 períodos de 5 minutos. Hoje são 4 períodos de 8 minutos. Por isso, exige muito mais preparo físico hoje em dia. É importante fazer academia, alongamento, natação. Na minha época de jogador, para cada time havia apenas um treinador. Agora, a seleção da Hungria, por exemplo, tem um treinador de natação, preparador físico, treinador de goleiros e o técnico. Hoje, o jogo é muito mais rápido. Olhando hoje o jogo da minha época parece um jogo de másters (risos).
Attila Sudár: Eu não conhecia a ABDA. Em 2011, eu tentei ser técnico da seleção da Hungria, mas perdi a votação por 7 votos a 6. Eu estava muito bravo com isso e pensei que poderia ir para qualquer lugar no mundo. Nesse período, conheci uma pessoa em Lisboa (Portugal) que me perguntou o que eu achava de vir atuar como treinador no Brasil. Fiz uma entrevista com Claudio Zopone (mantenedor da ABDA). Em 2012, vim primeiro sozinho, apenas para conhecerem meu trabalho. Depois trouxe esposa e meus dois filhos. Pretendia ficar 2 anos, mas não consegui ir embora, me apaixonei pelas crianças. Eu amo o meu trabalho na ABDA.
O campeão húngaro com a esposa Dora Viczian e os filhos Oliver e Zalan, durante o Festival Attila Sudár
Attila Sudár: É uma pergunta difícil. Mas, olhando como a ABDA começou, do zero, sem ninguém saber o que era polo aquático e como está hoje. Sete anos atrás, usávamos duas piscinas pequenas. Hoje, temos essa Arena maravilhosa com duas piscinas olímpicas oficiais e toda estrutura, um dos melhores complexos esportivos da América Latina. Quase toda semana temos vários jogos. Em Bauru, o polo aquático está cada dia mais popular. Eu acho que os jogadores do Brasil têm muito talento. Os pais quando chegam na piscina notam que aqui tem amor, disciplina, humildade. Assim mais pessoas querem ver os filhos nesse esporte. Mas, não basta apenas a ABDA. Eu gostaria que outros clubes também investissem mais.
Attila Sudár: Nosso treinamento na ABDA é igual ao das seleções da Itália, Hungria, Sérvia e Croácia. Na Arena tem tudo além das duas piscinas: duas academias bem equipadas, nutricionista, medica, fisioterapeuta, bons técnicos. Tudo depende apenas de nós para crescer. O importante é que diz o lema da ABDA: persistência, fé e humildade. E eu acrescentaria o amor. Porque não basta ter talento. Esses quatro itens são muito mais importantes que ter talento. Um jogador mesmo talentoso pode não ter sucesso se não treinar sério. Se não tiver motivação, nunca vai chegar a um nível alto.
O técnico Attila Sudár adora interagir com as crianças na ABDA
Attila Sudár: O mais importante é a união do time, onde um estimula e apoia o outro. Se o time está unido, tudo é diferente. Não ficar lamentando erros, mas procurar apoiar um ao outro. Aqui na ABDA nunca se cobra que tem que ganhar. Mas, que tem que treinar sério, chegar no horário, se dedicar. A vitória é consequência desse trabalho sério.
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